Avoando Solitário: A velha Igreja e os novos católicos

domingo, 28 de julho de 2013

A velha Igreja e os novos católicos


O papa Francisco veio ao Brasil e encontrou uma Igreja diferente de quando seu antecessor a visitou, em 2007. O número de pessoas que se declaram católicas caiu de 64% para 57%, indica pesquisa Data Folha. Provavelmente “humilde" foi o adjetivo que mais se usou para se referir a este papa, de gestos simples e palavras pensadas. Jeito faceiro que está levando milhares a sonhar com uma renovação completa e necessária na Igreja. Estes ingênuos foram surpreendidos por uma notícia na Folha, do kit-idade-média, distribuiu oficialmente pelo Vaticano para a Juventude Mundial da Juventude, condenando expressamente o aborto, a reprodução assistida, eutanásia e homossexualidade. Contudo, além de agora serem menos que antes, suas opiniões divergem e muito do que prega o alto e retrogrado escalão eclesiástico.

A pesquisa revela ainda que “os católicos são mais liberais em matéria de costumes que os evangélicos. Por exemplo, são contra a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo 36% dos fiéis da Igreja Católica e 42% são contra a adoção de crianças por casais homossexuais (42%). Entre os evangélicos esses índices são de 65% e 70%. Em relação ao aborto, os índices são mais parecidos. São contra lei que criminaliza o aborto 22% dos católicos, 16% dos pentecostais e 23% dos não pentecostais. Somente os espíritas são mais liberais nessa questão: 42% disseram ser contrários a criminalização da prática." Ainda segundo a pesquisa, católicos são são pouco inclinados a seguir orientação política da igreja. “Só 5% votaram em candidato recomendado pela instituição, enquanto 18% dos pentecostais fizeram isso e 14% dos não pentecostais" Isso explica por que, apesar de estarem em menor número, o apoio de pastores e seus currais eleitorais seja tão disputado.

Vemos com isso que, apesar de ambas as denominações religiosas serem conservadoras, seus fieis seguem rumos diferentes. Alguns se enganam, como foi o caso recente do jornalista e editor de mídia online de CartaCapital, Lino Bocchini, não levou em consideração ao publicar o artigo: "Papa é um Feliciano com muito mais poder e o apoio da Globo". Um dos textos mais lidos da semana, rechaçados e sem sentido que já vi na vida. Ele começa o artigo dizendo que: “Os evangélicos estão sendo injustiçados". E, sim, ele piora. O papa, assim como Feliciano, também possui poder político, no entanto, hoje em dia suas decisões pouco significam aos fieis. Encontra-se fraca, em declínio constante, diferente do evangelismo, crescente e sedenta por poder político. Nesse cenário, Lino pode que tratemos ambas iguais. A pesquisa Data folha incida o contrário. Podem até ter a mesma medida, mas não têm o mesmo peso. E esta é mais ou menos o que defende também o filosofo Paulo Ghiraldelli Jr em artigo para o Ig, sob título de “Fazer de Francisco um inimigo é inútil ao movimento gay".

Ainda que as ovelhas católicas pensem por si mesmas, dificilmente a Igreja Católica se abrirá às questões fundamentais de nosso tempo e se tornara vanguarda nesse processo de luta por direitos humanos. Não se enganem. Pode até ser que, como acredita o teólogo Leonardo Boff, a Igreja criará “uma dinastia de papas do Terceiro Mundo", ou seja, o foco principal será no social, nos mais pobres, onde há número maior de fieis. Mesmo perdendo fieis para igrejas evangélicas, o Brasil continua a ostentar o título de maior país católico do mundo. E a Igreja, perdendo espaço na Europa (como não amar a França aprovando o casamento gay, um dos países mais católicos do velho mundo), terá que se voltar a nosso continente, descer do pedestal que esteve por séculos e servir seu povo. Mas esqueçam ela se posicionar positivamente sobre homossexualidade, por exemplo, quando o atual papa disse na Argentina, antes de aprovarem a lei de casamento igualitário, que se tratava de “um ataque destrutivo contra o plano de Deus"… Começo a suspeitar que o casamento talvez seja mesmo uma armadilha do tinhoso.

O papa disse, e em contexto diferente, que “Os jovens são a janela do futuro". Se refira às altas taxas de desemprego que atinge países da Europa. Dizia ser preciso criar medidas para que o jovem possa se desenvolver. Sempre que a leio, no entanto, vem a mente o atual momento em que a Igreja se encontra e quais os rumos tomará. Ouvindo os jovens, “já que são a janela do futuro", ou fechando-se a sue próprio conservadorismo intransigente, antigo. Ou aproxima-se desses jovens, desse mundo que novos católicos vivem, dessa janela ainda aberta capaz de levar milhões às ruas do Rio, em sua última missa, ou pode fechar suas portas e voltar a dormir, dessa vez eternamente. Pra falar a verdade, torço que Francisco consiga frear o avanço evangélico. No mínimo. Se declinar as duas vertentes, melhor ainda.

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